====== Economia, Finanças Pessoais & Investimento (Portugal) ====== **Aviso:** Esta página organiza princípios, exemplos e opiniões baseadas em experiências e pesquisas de membros do grupo ao longo do tempo. Não é aconselhamento financeiro ou fiscal. As regras mudam, os produtos também, e cada situação é diferente - confirma sempre informação atualizada e consulta um contabilista quando necessário. ===== 1. Filosofia FIRE ===== Princípios comuns para gerir dinheiro e investir: * **Gasta menos do que ganhas.** * **Usa a diferença para construir reservas e investir.** * **Prioriza produtos simples, transparentes e com comissões baixas.** * **Investe com horizontes longos.** * **Evita tentações de "market timing".** A lógica não é adivinhar o mercado - é estabelecer uma estratégia estável, disciplinada e emocionalmente sustentável. ==== 1.1 Princípios base ==== * **Construir estabilidade primeiro.** * Orçamento claro. * Fundo de emergência. * **Eliminar dívidas caras** antes de investir agressivamente. * **Desconfiar de produtos bancários opacos** cheios de comissões e pouca transparência. * **Dar preferência a produtos simples**, como: * Depósitos / contas remuneradas para liquidez. * ETFs globais acumulativos para longo prazo. * PPRs com estrutura de custos aceitável. * **Automatizar aportes**, quando possível. ==== 1.2 FIRE: Independência Financeira ==== O conceito FIRE - **Financial Independence, Retire Early** - foca-se sobretudo na **independência financeira**, não necessariamente em "reforma precoce" no sentido tradicional. Noções centrais: * Ser financeiramente independente = os investimentos conseguem cobrir as despesas anuais. * Esta situação dá liberdade de escolha: trabalhar menos, mudar de carreira, enfrentar períodos sabáticos, etc. Regras práticas usadas como referências: * **Regra dos 4%** → retirar ~4% ao ano de uma carteira diversificada tem sido historicamente razoavelmente sustentável a longo prazo. * **Regra dos 25x** → exige-se um património equivalente a 25 × as despesas anuais. Exemplo: * Gastos anuais de 18 000 € → objetivo aproximado de ~450 000 €. Variantes frequentemente referidas: * **Lean FIRE** → FIRE com estilo de vida de baixo custo. * **Fat FIRE** → FIRE com maior margem e conforto. * **Coast FIRE** → investir muito no início e depois deixar o capital crescer praticamente sozinho. * **Barista FIRE** → parte das despesas cobertas por investimento, resto por trabalho leve/part-time. ===== 2. Organização prática das finanças pessoais ===== A experiência prática e a literatura de finanças pessoais tendem a convergir para uma sequência de prioridades semelhante à seguinte. ==== 2.1 Sequência de prioridades sugerida ==== 1. **Saber para onde vai o dinheiro** * Categorizar despesas mensais. * Projetar despesas anuais. 2. **Construir um fundo de emergência sólido** * Normalmente 3–6 meses de despesas essenciais. * Mais, se o rendimento for instável ou incerto. * Em produtos com baixo risco: depósitos, contas remuneradas, contas poupança. 3. **Eliminar dívidas de juros elevados** * Crédito pessoal, cartões de crédito, etc. 4. **Começar o investimento de longo prazo** * PPRs com boa relação risco/benefício. * ETFs globais acumulativos. 5. **Planear objetivos de médio prazo** * Casa, carro, estudos, mudança de país, etc. ==== 2.2 Exemplo ilustrativo de distribuição mensal ==== * **50–60%** - despesas essenciais. * **10–20%** - reforço do fundo de emergência / objetivos de curto prazo. * **20–30%** - investimento de longo prazo (PPR + ETFs). * **0–10%** - extras conscientes (lazer, hobbies). Mais importante que a percentagem exata é aumentar gradualmente a **taxa de poupança**, sem comprometer a qualidade de vida de forma insustentável. ===== 3. Produtos financeiros mais usados ===== Esta secção reúne os tipos de produtos que aparecem com mais frequência em estratégias de poupança e investimento, e uma forma de os enquadrar. ==== 3.1 Depósitos a prazo e contas poupança ==== * **Baixo risco**, capital garantido, protegidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos (até 100 000 € por titular e por banco). * Taxas de juro geralmente baixas, mas úteis pela previsibilidade. * Juros em Portugal são pagos **já líquidos** (retenção na fonte de 28%). Utilizações típicas: * Parte do fundo de emergência. * Poupança de curto prazo (0–3 anos). Em 2025, depósitos a prazo em bancos portugueses situam-se tipicamente em torno de **1,5–2,0% TANB**, dependendo das campanhas; a TANL (após 28% de IRS) fica por volta de **1,1–1,4%**. ==== 3.2 Contas remuneradas e juros em numerário (Trade Republic, XTB, Trading212, etc.) ==== Além dos depósitos tradicionais, existem **contas remuneradas** em fintechs e corretoras que pagam juros sobre o saldo em numerário. ===== 3.2.1 Trade Republic ===== * Paga cerca de **2% TANB/ano** sobre o saldo em numerário (EUR), para clientes portugueses, até 50 000 € (nalgumas jurisdições o limite pode ser diferente). * Juros calculados diariamente e pagos mensalmente. * O numerário é depositado em bancos de referência da zona euro e está protegido até **100 000 € por cliente** pelos esquemas europeus de garantia de depósitos. * Títulos (ETFs, ações) ficam em **custódia segregada** (não entram no Fundo de Garantia de Depósitos). Fiscalidade: * Juros são pagos **brutos** → devem ser declarados no **Anexo J** do IRS como rendimentos de capitais obtidos no estrangeiro. * O IBAN estrangeiro deve ser declarado no quadro de contas no exterior. Enquadramento típico: * Posição para parte do fundo de emergência com taxa de juro superior à dos bancos nacionais. * "Pote" para férias e objetivos a 1–3 anos, mantendo liquidez e algum rendimento. ===== 3.2.2 XTB - juros sobre fundos não investidos ===== * Além de corretora para ETFs, paga juros sobre o saldo em numerário: * Taxas para EUR têm variado entre **~1,25% e ~2,30%/ano**, com campanhas de taxa "preferencial" nos primeiros 90 dias e taxa "padrão" depois. * Juros calculados diariamente e pagos mensalmente. * Não existe montante mínimo relevante, mas: * há **comissão de inatividade** (~10 €/mês) após 12 meses sem qualquer operação e sem depósitos recentes. Proteção: * O numerário não é conta bancária; está coberto pelos **mecanismos de compensação de investidores** (não pelo Fundo de Garantia de Depósitos), normalmente com proteção na ordem dos **20 000 €** (dependendo da jurisdição). Enquadramento: * Geração de juros extra enquanto se decide em que ETF investir. * Não ideal para manter grandes montantes em liquidez por longos períodos, devido ao modelo de corretora e à eventual comissão de inatividade. ===== 3.2.3 Trading212 - juros em cash ===== * Paga juros sobre numerário não investido: * Taxas variam por moeda; em 2025, referências típicas: * **EUR ~2,2% AER**, * **USD ~3,5–4% AER**, * **GBP ~3,8–4% AER**. * Juros calculados e **creditados diariamente**. * Sem limite de montante relevante (mesma taxa para todo o saldo, conforme o plano em vigor). Proteção: * Usa depósitos bancários e fundos de mercado monetário para gerar juros; a proteção decorre dos esquemas de compensação de investidores e/ou garantia de depósitos dos países parceiros (ex.: FSCS no Reino Unido até 85 000 £ por banco parceiro). Enquadramento: * Interessante para quem já utiliza Trading212 como plataforma principal de investimento. * Exige atenção à fiscalidade (juros brutos, a declarar em IRS). ===== 3.2.4 Contas de pagamento (Wise, Revolut, etc.) ===== * Contas de pagamento multi-moeda (Wise, Revolut, etc.) não são bancos tradicionais, mas instituições de moeda eletrónica: * fundos são mantidos em **contas segregadas** em bancos parceiros, * não estão abrangidas pelos esquemas nacionais de garantia de depósitos da mesma forma que um banco português. * Algumas moedas têm **juros ou "cashback"** sobre o saldo (por exemplo, USD em Wise, com taxas variáveis). Enquadramento: * Conta operacional do dia-a-dia, viagens, pagamentos e câmbios. * Possível combinação: salário entra num banco português → excedente é transferido para fintech com juros, assumindo os riscos e a burocracia fiscal associados. **Resumo desta secção:** * Depósitos PT → muito seguros, juros baixos, TANL ~1–1,4%/ano. * TR / XTB / Trading212 / Wise → juros mais altos, maior complexidade fiscal, esquemas de proteção diferentes. * Boa prática: **não concentrar 100% da reserva de segurança** em fintech/corretoras, nem 100% em bancos com 0% de juro; procurar equilíbrio. ==== 3.3 ETFs acumulativos (ex.: via XTB ou Trade Republic) ==== ETFs globais acumulativos são frequentemente usados como instrumento principal de crescimento de património no longo prazo. ===== 3.3.1 Porque preferir ETFs acumulativos ===== * **Simplicidade** - um ou dois ETFs dão exposição a milhares de empresas globais. * **Custos baixos** - TERs reduzidos comparados com fundos tradicionais de balcão. * **Transparência** - índice claro, composição conhecida, custos explícitos. * **Estratégia Buy & Hold** - reforços periódicos ao longo de décadas, com pouco rebalanceamento. ===== 3.3.2 Plataformas mais usadas para ETFs ===== **XTB** * Comissões reduzidas ou nulas em ETFs até certo volume mensal (por exemplo, 0% até 100 000 € de volume/mês em muitas jurisdições). * Contas segregadas, corretora regulada na UE. * Juros sobre numerário (ver secção 3.2.2). * Comissão de inatividade (~10 €/mês) após 12 meses sem operações. **Trade Republic** * Interface simples, permite ordens periódicas automáticas e integra conta remunerada (3.2.1). * Comissões muito baixas por transação (tarifa fixa reduzida por ordem, dependendo da bolsa). * Depósitos cobertos até 100 000 €. **Trading212** * Sem comissões em muitas ações/ETFs; spreads competitivos. * Juros diários sobre cash (3.2.3). * Interface móvel amigável para gestão frequente. ===== 3.3.3 ETFs "núcleo" mais frequentes ===== Lista de ETFs frequentemente usados como base de carteira (não é recomendação, apenas registo de produtos comuns): **1. Ações globais (core "world")** * **iShares Core MSCI World UCITS ETF (Acc) - IWDA / SWRD** * Exposição: ~1 500 empresas de países desenvolvidos. * Tipo: acumulativo. * TER típico: ~0,20%. * **Vanguard FTSE All-World UCITS ETF (Acc) - VWCE** * Exposição: desenvolvidos + emergentes (~3 500 empresas). * Tipo: acumulativo. * TER típico: ~0,22%. * Muitas vezes usado como solução "1 ETF chega". **2. Obrigações globais (para reduzir volatilidade)** * **iShares Core Global Aggregate Bond UCITS ETF (Acc) - AGGH** * Obrigações globais investment grade. * Tipo: acumulativo. * TER típico: ~0,10–0,12%. * Serve para amortecer quedas de um portefólio muito acionista. **3. Exposição tecnológica adicional (satélite)** * **Invesco EQQQ NASDAQ-100 UCITS ETF (Acc) - EQQQ** * Exposição: 100 maiores empresas tecnológicas dos EUA. * Tipo: acumulativo. * TER: ~0,30%. * Tipicamente usado como satélite (5–10% da carteira). **4. Mercados emergentes (satélite)** * **iShares MSCI Emerging Markets UCITS ETF (Acc) - EIMI** * Exposição: China, Índia, Brasil, etc. * Tipo: acumulativo. * TER: ~0,18%. * Usado para reforçar emergentes para além da exposição já incluída em VWCE. ===== 3.3.4 Combinações frequentes ===== **Solução ultra-simples (1 ETF):** * **VWCE** * Exposição global (desenvolvidos + emergentes). * Gestão fácil: reforçar mensalmente e ignorar o ruído diário. **Solução mais "equilibrada" (2 ETFs):** * **IWDA** (ações globais, países desenvolvidos) * **AGGH** (obrigações globais) * Proporções típicas: 80/20, 70/30, 60/40. * Quanto maior a fatia de obrigações, menor a volatilidade geral. **Solução "core + tecnologia":** * **VWCE** (núcleo) * * 5–10% **EQQQ** (peso tecnológico adicional). **Solução "global + emergentes":** * **IWDA** * * 10–15% **EIMI** (reforço emergentes). Boas práticas: * Evitar misturar demasiados ETFs sem justificação clara. * Manter ETFs satélite em percentagens pequenas (tipicamente <10–15%). * Privilegiar a **consistência nos aportes** em vez de procurar "o ETF perfeito". ===== 3.3.5 Fiscalidade prática (resumo) ===== * ETFs em corretoras estrangeiras: * Não têm retenção automática de IRS português. * Mais-valias → **Categoria G**, declaradas em Anexo G/J. * Dividendos (se o ETF for distributivo) → **Categoria E**. * ETFs acumulativos: * Pagam imposto apenas na venda (mais-valias), o que simplifica bastante o IRS anual. ==== 3.4 PPRs (Planos Poupança Reforma) ==== Pontos de atenção recorrentes: * Analisar **custos** (TER, comissões de gestão, comissões de subscrição e resgate). * Perceber a **alocação de ativos** (percentagem em ações, obrigações, liquidez). * Tratar o PPR como instrumento de longo prazo e, se fizer sentido, como veículo de **otimização fiscal**. Modelos frequentemente analisados: ===== 3.4.1 Optimize Capital PPR - "Leopardo" ===== * PPR dinâmico que pode investir **até 100% em ações**, com forte exposição a empresas cotadas nos EUA. * Categoria de risco: **5/7** (volatilidade elevada). * TER na ordem dos **2,4%/ano** (inclui comissão de gestão). * Surge frequentemente em rankings de PPR dinâmicos (literaciafinanceira.pt, MoneyLab, etc.). * Adequado para horizontes longos e para quem tolera grande volatilidade em troca de potencial de retorno. ===== 3.4.2 Optimize PPR/OICVM Moderado (e outros Optimize) ===== * Perfil mais equilibrado (tipicamente máx. ~15% ações; restante em obrigações e liquidez). * TER mais baixo que o Leopardo (cerca de **1,2%/ano**). * Útil como "PPR flexível": * para metas futuras como casa, negócio, mudanças de vida, * muitas vezes pensado sem usar benefício fiscal na entrada, mantendo maior liberdade de resgate. ===== 3.4.3 Bankinter 75 PPR/OICVM ===== * PPR dinâmico com cerca de **75% de exposição a ações**, restante em obrigações e liquidez. * Indicador de risco: **5/7**. * TER na ordem dos **2,3–2,4%/ano**. * Historicamente bem posicionado em rankings de rentabilidade a 5 anos (MoneyLab, literaciafinanceira.pt, Rankia, etc.), com rentabilidades anualizadas na casa dos **3,5–4,5%** (já depois de comissões de gestão). * Fundado em 2006, com histórico longo para análise. ===== 3.4.4 Invest AR PPR (Banco Invest) ===== * Perfil misto/global (combinação de ações, obrigações e outros ativos). * Adequado para quem procura risco médio. * Valoriza-se normalmente: * a diversificação global, * comunicação razoavelmente clara, * historial estável para perfil misto. ===== 3.4.5 Stoik PPR (SGF) ===== * PPR com forte componente de ações globais. * Considerado agressivo em termos de perfil de risco. * Estrutura de comissões particular (comissão base mais baixa + percentagem sobre ganhos). * Opção para quem aceita maior volatilidade em troca de potencial de retorno mais elevado. ===== 3.4.6 PPR Golden SGF ETF ===== * PPR que investe principalmente via **ETFs**, com estratégia mais indexada. * Risco relativamente elevado, dependente da alocação aos ETFs subjacentes. * Frequentemente visto como alternativa "moderna" a PPRs de gestão mais tradicional. ===== 3.4.7 Fiscalidade dos PPR - visão simplificada ===== **Com benefício fiscal na entrada (dedução à coleta):** * Permite deduzir **20% das entregas** no IRS, até limites anuais dependentes da idade. * Se o resgate for feito **dentro das condições legais** (reforma, idade ≥60, desemprego de longa duração, etc.): * apenas **20% das mais-valias** são tributadas a 20% → imposto efetivo ≈ **8%** sobre as mais-valias (melhor do que os 28% normais). * Se o resgate for feito **fora das condições**: * é necessário devolver as deduções + penalização (10% ao ano sobre o valor deduzido), * perdendo praticamente toda a vantagem fiscal obtida. **Sem benefício fiscal na entrada (PPR "flexível"):** * Não há dedução imediata no IRS. * Em contrapartida, há maior liberdade: * para resgatar sem "devolver" benefícios, * aproveitando ainda assim uma tabela de tributação sobre mais-valias, que em prazos longos pode ser mais favorável que os 28% standard. * Em resgates fora das condições, sem benefício fiscal prévio, aplicam-se taxas efetivas decrescentes sobre mais-valias (ex.: 21,5% / 17,2% / 8,6%, dependendo do prazo do contrato). Estrutura frequentemente usada: * **Um PPR "fiscal"** (ex.: Bankinter 75 ou Leopardo) para aproveitar dedução à coleta. * **Um PPR "flexível"** (ex.: Optimize Moderado) sem benefício fiscal na entrada, para objetivos de longo prazo com maior liberdade de resgate. ===== 4. Comparação integrada de produtos ===== Avaliação informal de risco e utilidade de diferentes soluções: | **Produto** | **Risco** | **Liquidez** | **Vantagens** | **Limitações** | | Depósitos / Poupança | Muito baixo | Alta | Capital garantido; simples | Rendimentos baixos | | Conta remunerada (TR, fintech) | Baixo | Alta (D+1/2) | Juros atractivos; proteção UE até 100k | Obrigações fiscais extra; risco institucional | | ETFs globais (XTB/TR/212) | Médio-Alto | Alta (venda imediata) | Crescimento a longo prazo | Volatilidade; sem capital garantido | | PPRs dinâmicos (Leopardo, BK75) | Médio-Alto | Baixa (regras resgate) | Benefícios fiscais; foco longo prazo | Regras de resgate; comissões relativamente altas | | PPRs moderados/equilibrados | Médio | Baixa | Menos volatilidade; ainda com benefícios | Crescimento mais lento | ===== 5. Combinações típicas de carteira ===== Uma estratégia equilibrada, especialmente para perfis conservadores a moderados, pode incluir: * **Parcela de baixo risco**: * Depósitos a prazo em bancos portugueses. * Contas remuneradas (Trade Republic, etc.). * **Parcela de crescimento**: * ETFs globais acumulativos (VWCE / IWDA + AGGH). * PPR de perfil adequado ao investidor (dinâmico ou moderado). Exemplo de integração: * Depósitos + conta remunerada → estabilidade e liquidez. * ETFs → crescimento do património a 10–20+ anos. * PPR → benefício fiscal e disciplina (dinheiro mais "trancado"). Comparações úteis: * **Liquidez:** depósitos e contas remuneradas são mais líquidos; PPRs são menos líquidos. * **Rentabilidade potencial:** ETFs e PPRs dinâmicos tendem a ter maior potencial de retorno. * **Complexidade:** depósitos e alguns PPRs são mais "autoexplicativos"; ETFs exigem mais literacia financeira. * **Fiscalidade:** contas estrangeiras e PPRs exigem atenção às regras de IRS (Anexo J, condições de resgate, etc.). Ideia chave: > Uma boa estratégia não precisa de ser complexa. Precisa de ser coerente, repetível e alinhada com objetivos de longo prazo. ===== 6. FIRE e integração desta abordagem ===== Ao combinar: * fundo de emergência sólido, * redução de dívidas caras, * automatização de aportes, * equilíbrio entre liquidez e crescimento, estabelece-se uma base natural para evoluir em direção à independência financeira (FIRE), mesmo com perfis relativamente conservadores. Pontos fortes desta abordagem: * Crescimento via ETFs globais acumulativos. * Otimização fiscal via PPR (quando bem usados). * Estabilidade e liquidez via depósitos e contas remuneradas. * Automatização → menos stress, mais disciplina. Frase-âncora: > O caminho para FIRE é uma maratona, não um sprint - com consistência, perfis conservadores também conseguem ganhar liberdade financeira progressivamente. ===== 7. Taxas de juro & rendibilidades típicas (ordens de grandeza) ===== **Aviso:** Valores meramente indicativos, sujeitos a alterações por decisões do BCE, condições de mercado e políticas de cada instituição. Servem como referência mental, não como promessa. ==== 7.1 Juros em numerário (2025, aproximações) ==== Por cada 1 000 € imobilizados durante 1 ano: * **Depósito a prazo PT (~2% TANB)** * Bruto: ~20 € * Líquido (28% IRS): ~14–15 € (~1,2 €/mês). * **Trade Republic (~2% TANB em EUR)** * Bruto: ~20 € * Líquido (28% IRS via Anexo J): ~14–15 €. * **XTB (EUR ~1,25–2,3% conforme campanha)** * Bruto: ~12,5–23 € * Líquido: ~9–16,5 €. * **Trading212 (EUR ~2,2–3% AER)** * Bruto: ~22–30 € * Líquido: ~16–22 €. * **Wise/Revolut** * Em certas moedas (USD, GBP) surgem taxas >3–4%/ano, com risco cambial e regras próprias de cada conta. ==== 7.2 Rendibilidades esperadas de ETFs & PPRs (muito aproximadas) ==== Com base em histórico de longo prazo e estimativas conservadoras: * **ETFs de ações globais (VWCE / IWDA)** * Índices globais (MSCI ACWI / FTSE All-World) mostraram retornos nominais de ~7–8%/ano em janelas de 15–20 anos. * É prudente trabalhar com **5–6%/ano bruto** como expectativa conservadora. * **ETFs de obrigações globais (AGGH)** * Yield-to-maturity atual na ordem dos **3–4%/ano**; retorno real dependerá de futuras alterações nas taxas de juro. * **PPRs dinâmicos (Bankinter 75, Optimize Agressivo/Leopardo, Stoik, etc.)** * Rankings 5–10 anos apontam para **~3–5%/ano** líquido de comissões de gestão, com forte variabilidade ano a ano. * **PPRs moderados / equilibrados (Optimize Moderado, etc.)** * Tipicamente **2–3%/ano** em períodos longos, com menor volatilidade. Em termos fiscais: * ETFs e PPRs **não pagam imposto todos os anos**; * O imposto é pago quando há venda/resgate: * ETFs → em regra, 28% sobre mais-valias (salvo englobamento). * PPR → taxas efetivas reduzidas sobre mais-valias se cumpridas as condições e prazos. Mensagem de fundo: * A obsessão com décimas da TANB raramente compensa. * O importante é entender: * ordens de grandeza (2% vs 5% vs 8%), * diferenças de liquidez, risco e fiscalidade, * e construir um sistema que seja sustentável ao longo de muitos anos. ===== 8. Contas bancárias, comissões e transferências SEPA ===== Resumo de conceitos e práticas em torno de: * comissões de manutenção de conta, * contas de serviços mínimos bancários, * transferências SEPA (normais e imediatas), * distinção entre bancos tradicionais, bancos digitais e fintechs. Os valores são indicativos; é obrigatório verificar preçários atualizados. ==== 8.1 Conceitos base ==== * **Comissão de manutenção de conta** * Valor mensal ou anual cobrado por muitos bancos tradicionais pela conta à ordem. * Pode ser 0 € em contas online ou em contas de serviços mínimos. * **Conta de Serviços Mínimos Bancários (SMB)** * Conta regulada por lei em Portugal, disponível em qualquer banco aderente. * Inclui um conjunto mínimo de serviços (cartão de débito, depósitos, levantamentos, débitos diretos, transferências, homebanking). * Comissão de manutenção muito reduzida, com teto anual (≈ 1% do IAS, ~5 €/ano). * **Transferências SEPA (zona euro)** * Por lei, uma transferência SEPA transfronteiriça deve custar o mesmo que uma transferência nacional em euros. * Na prática: * muitos bancos já não cobram nada por transferências SEPA normais feitas online; * alguns ainda cobram pequenas comissões, se também cobram pelo equivalente nacional. * **Transferência SEPA imediata (instant)** * Transferência em segundos, 24/7, dentro da zona SEPA. * Frequentemente sujeita a comissão extra por operação. ==== 8.2 Portugal - exemplos típicos ==== **Bancos tradicionais (ex.: CGD)** * Contas "pacote" comuns (ex.: Conta Caixa) têm **comissão de manutenção mensal** na ordem dos **5–6 €/mês** em contas standard de adultos. * Existem **Contas de Serviços Mínimos Bancários** com custo anual na ordem dos **4–5 €**, incluindo cartão de débito e operações básicas, desde que cumpridos critérios de acesso (não ter outras contas à ordem, etc.). **Bancos online portugueses (ex.: ActivoBank)** * Posição base de **contas sem comissão de manutenção** (Conta Simples / SMB), sobretudo em abertura digital. * Planos "premium" com comissões mensais existem, mas são opcionais. * Transferências nacionais e SEPA online são, em regra, gratuitas nas contas standard. Configuração prática comum: * Usar um banco online (ex.: ActivoBank) como "conta hub": * onde entra o salário, * origem das transferências automáticas: * para conta partilhada, * para fintechs com juros (TR, etc.), * para corretoras (XTB, Trading212), * para PPRs. ==== 8.3 Bancos digitais europeus (N26, etc.) ==== **N26 (Alemanha, conta digital na zona euro)** * Conta N26 Standard: * **0 € de comissão de manutenção**, * gestão 100% digital, * transferências SEPA normais gratuitas. * Outros planos (Smart, You, Metal) incluem funcionalidades adicionais com comissões mensais correspondentes. Uso típico: * Conta leve em euros, com IBAN estrangeiro, adequada a mobilidade na UE e a quem prefere interfaces modernas a bancos de balcão. **Revolut / Wise (relembro)** * Contas multi-moeda tipicamente usadas para: * pagamentos do dia-a-dia, * viagens, * câmbios. * Fiscalmente, tratadas como contas no estrangeiro (devem ser declaradas). ==== 8.4 Fintechs / corretoras com juros em numerário (Trade Republic, XTB, Trading212) ==== Estas entidades foram já detalhadas em 3.2, mas resumem-se aqui pela função: * **Trade Republic** * Numerário remunerado, depósitos protegidos até 100 000 €, plataforma para ETFs/ações. * Exemplo de "conta remunerada + investimento" numa única app. * **XTB** * Corretora de ETFs/ações com comissões baixas, juros em numerário em certas condições, comissão de inatividade. * **Trading212** * Corretora com modelo sem comissões em muitos instrumentos, juros diários em cash, foco em app móvel. Função típica: * Servir como **pote remunerado** para curto/médio prazo e como plataforma de investimento. ==== 8.5 Transferências SEPA - pontos práticos ==== * **SEPA normal (D+1)**: * Deve ter o mesmo custo que uma transferência doméstica em euros. * Em bancos digitais (N26, ActivoBank, etc.), costuma ser gratuita online. * Em alguns bancos tradicionais, ainda existe comissão por operação. * **SEPA imediata**: * Muitas vezes cobrada à parte. * Útil para urgências; não é necessário usá-la para todas as transferências. * Combinação custo/benefício: * Uma conta com manutenção de 5–7 €/mês **e** comissões por transferências tende a ser pouco eficiente face a alternativas online ou SMB. * Contas digitais com 0 €/mês e SEPA grátis encaixam melhor em estratégias de otimização de custos. ==== 8.6 Tabela-resumo simplificada ==== | Tipo de solução | Exemplo(s) | Manutenção típica | Transferências SEPA online | Uso típico | | Banco tradicional PT (conta "normal") | CGD Conta Caixa, etc. | ~5–10 €/mês | Podem cobrar por operação | Ordenado + débitos diretos (se não houver alternativa melhor) | | Conta Serviços Mínimos Bancários (SMB) | CGD, ActivoBank, outros | ~4–5 €/ano | Incluídas no pacote mínimo | IBAN PT com custos muito reduzidos | | Banco online PT | ActivoBank Conta Simples, moey | 0 €/mês | Normalmente grátis | Conta "hub" para salário e automatismos | | Banco digital europeu | N26 Standard, etc. | 0 €/mês | Normalmente grátis | Conta paralela em EUR para mobilidade UE | | Conta de pagamento / fintech | Revolut, Wise | 0 €/mês base | Normalmente grátis (limites possíveis) | Cartão do dia-a-dia e viagens | | Corretora com juros em numerário | Trade Republic, 212, XTB | 0 €/mês (regras próprias) | Transferências para IBAN externo | Pote remunerado + investimento | Síntese operacional: * Evitar pagar comissões mensais elevadas sem valor acrescentado claro. * Manter **pelo menos um banco "grátis"/SMB** com IBAN PT + **uma conta digital/fintech**. * Para investir e obter juros, usar corretoras/fintechs com regras transparentes e sem "taxas escondidas". ===== 9. IRS - notas rápidas de declaração (Portugal) ===== **Aviso:** Resumo informal, sujeito a alterações legais. Em caso de dúvida, usar simulações no Portal das Finanças ou consultar um contabilista. ==== 9.1 Tipos de rendimento relevantes neste contexto ==== * **Juros de depósitos / contas remuneradas em bancos PT** * Normalmente já vêm com **retenção na fonte de 28%**. * Se não houver opção de englobamento, o imposto é definitivo e pode não ser necessário declarar. * **Juros e rendimentos de contas no estrangeiro (TR, XTB, Trading212, Wise, etc.)** * Pagos **brutos**. * Declarados como **Categoria E – Rendimentos de Capitais** no **Anexo J**. * As contas no estrangeiro devem ser identificadas no quadro respetivo. * **Mais-valias de ETFs / ações em corretoras estrangeiras** * Lucros na venda → **Categoria G – Mais-valias mobiliárias**. * Declaradas em Anexo G/J, com referência à entidade estrangeira. * ETFs acumulativos não distribuem dividendos, mas as mais-valias realizadas são tributadas. * **PPRs** * Quando há benefício fiscal na entrada, o regime de resgate é específico (condições legais vs fora de condições). * Mesmo sem benefício fiscal na entrada, há tabelas de tributação próprias, frequentemente mais vantajosas em prazos longos. ==== 9.2 Pontos a não esquecer ==== * **Contas no estrangeiro** (TR, XTB, N26, Revolut, Wise, etc.) devem ser identificadas no Anexo J. * **Relatórios anuais das plataformas** (extratos, mapas de operações, CSV) são essenciais para: * calcular mais-valias, * somar juros/dividendos, * preencher o IRS com segurança. * **Englobar vs não englobar**: * Com rendimentos de capitais pequenos e já com retenção a 28%, muitas vezes não compensa englobar. * Com rendimentos de trabalho mais baixos e muitos rendimentos de capitais, pode ser útil simular cenários com englobamento. ===== 10. FAQ - risco, segurança e mindset ===== Algumas perguntas frequentes: **➤ "É seguro ter dinheiro numa corretora?"** * Depende da corretora, jurisdição e tipo de ativo. * Em corretoras reguladas na UE: * títulos costumam estar em **regime de segregação de ativos**, * existe proteção por **fundos de compensação de investidores** até certos limites. * Ainda assim, é prudente: * não concentrar todo o património financeiro numa única entidade, * evitar plataformas sem supervisão clara. **➤ "Posso perder tudo num ETF global como VWCE?"** * Para ocorrer perda total, seria necessário um colapso praticamente global das grandes empresas - cenário extremo que implicaria falência do sistema financeiro atual. * O que é realista: * quedas de 30–50% em crises, * vários anos negativos seguidos. * Por isso, ETFs de ações globais são pensados para **horizontes de 10–20+ anos** e não para dinheiro que poderá ser necessário em 1–3 anos. **➤ "E se precisar do dinheiro antes dos 10 anos?"** * Se a probabilidade de uso em <5 anos for relevante: * maior fatia em: * depósitos, * contas remuneradas, * obrigações / PPRs moderados; * menor fatia em ações puras (ETFs de ações globais). * Misturas comuns: * 50% em "segurança" (depósitos + conta remunerada + obrigações/PPR moderado), * 50% em "crescimento" (ETFs de ações + PPR dinâmico), * ajustando consoante tolerância ao risco e horizonte. **➤ "Tenho pouco dinheiro; vale a pena investir?"** * Sim, principalmente para criar **hábito**. * Aportes pequenos (20–50 €/mês) já permitem: * aprender a mecânica de investir, * compreender a volatilidade com montantes controlados, * construir uma rotina que pode ser escalada quando o rendimento aumentar. **➤ "Quanto devo pôr em depósitos vs ETFs?"** * Regra prática comum: * Primeiro, criar fundo de emergência (3–6 meses) em depósitos/conta remunerada. * Depois, definir percentagem de "segurança" vs "crescimento": * perfis conservadores → 60–70% estável, 30–40% crescimento; * perfis agressivos e jovens → 30–40% estável, 60–70% crescimento. * Esta proporção pode ser ajustada ao longo da vida (por exemplo, aumentando a parte estável próxima da reforma). **➤ "Tenho medo de começar; por onde começo?"** * Sugestão prática: * Começar com valores simbólicos (ex.: 20 €/mês num ETF ou PPR). * Focar-se em aprender o processo (abrir conta, transferir, comprar, ver extratos). * Evitar acompanhar a cotação diariamente. * Estudar gradualmente temas como: * risco e volatilidade, * diversificação, * fiscalidade básica (Anexo J, mais-valias, etc.). Frase final útil: > Mais importante do que encontrar o produto perfeito é encontrar uma estratégia simples que se consiga seguir durante 10–20 anos sem entrar em pânico à primeira queda de mercado.